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Notícia publicada em 19/06/2015 às 12:57 | Marcos Lock
Qual gíria você usa no dia a dia?
A 'sofrência' te pegou, você não está 'de boa'. E agora 'véio'?

 

 

Por Marcos Lock 
Rul.com.br

 

As gírias são uma ótima solução para a linguagem do dia, porque elas não apenas simplificam a nossa fala como também têm quase a mesma função do sotaque, ou seja, indica a que grupo social ou étnico pertencemos. Mais do que isso, a gíria expressa também o sintoma de uma época e se renova a cada pouco, tornando obsoletas expressões com grande rapidez. Sob certo ponto de vista a gíria pode ser considerada também um neologismo com caráter de rebeldia, afinal ela sempre nasce fora do dicionário e só bem depois é incorporada pelo idioma oficial de um país.

 

O fato é que, através desta fala popular, a língua se renova intensamente e é onde ela ganha sua forma mais dinâmica. Até o Facebook utiliza a gíria “curtir” para definir uma de suas operações. Este verbo foi incorporado à língua portuguesa no século 12, oriundo do latim clássico “retritus”, com o sentido de “desgastar pelo uso”. Hoje ele está no dicionário ele é apresentado com significados adicionais como “desfrutar”, “deleitar-se” e “gostar de alguém”.

 

Durante os últimos dias observei as falas das pessoas e atestei como a gíria está presente no discurso do dia a dia. Não foi difícil flagrar vários exemplos que estão desembarcando na Língua Portuguesa neste exato momento. Um caso é “sofrência”, termo muito falado durante a edição do último domingo no programa “Esquenta”, apresentado por Regina Casé. O termo, que se originou de um gênero musical no Nordeste, é uma mistura de “sofrimento” e “carência” e significa sofrer de forma continuada por amor ou por pura “dor de cotovelo”. Muitos artistas estão faturando alto nesta área. É o caso do cantor Pablo, considerado o Rei da Sofrência. Mas ele não é o único representante do estilo: Cristiano Araújo, Thiago Brava, Washington Brasileiro, Rivan Monteiro e Israel Novaes também cantam (e dançam) a sofrência. Outra fã do estilo, que já inseriu o estilo na playlist dos seus shows é Ivete Sangalo, que, inclusive, na música “Vingança do Amor”, de Pablo, fez uma participação especial.

 

Outra gíria citada em um programa esportivo da TV Bandeirantes jogou para os tele-espectadores de todo o país a expressão “Comigo é papo reto”. Ou seja, “comigo a conversa é direta”, é franca, é sincera e sem rodeios. Outra gíria já muito comum que flagrei numa das edições recentes do VídeoShow é: ““Isso é o cão chupando manga” que significa qualquer coisa superlativa. É usada para classificar pessoas difíceis,  feras em algum assunto ou muito feias. Exemplos: O David é o cão chupando manga, ninguém gosta de fazer negócios com ele”; “O cara é o cão chupando manga em Biologia”; “Ela mais feia que o cão chupando manga”. Serve ainda para expressar a dificuldade de se realizar uma tarefa: “Passar no vestibular da USP é o cão chupando manga”.

 

Vamos relembrar algumas gírias e as respectivas épocas em que elas apareceram:

 

Década de 50 - brotinho (menina jovem); bacana (algo interessante); pisante (sapato);

Década de 60 - morô? (entendeu?); carango (carro); psicodélico (algo inovador); bicho (meu camarada);

Década de 70 - coqueluche (mania geral); pão (rapaz bonito); de lascar (muito ruim); joia (pessoa ou coisa boa); careta (sujeito antiquado)

Década de 80 - uma bucha (um problema); brega (sem graça, fora da moda); bode (mau humor); deprê (triste), mina (garota).

Década de 90 - mauricinho (gente que parece rica); antenado (sabendo das coisas); manero (ajeitado); ficou pirada (ficou atrapalhada)

Gírias atuais - Além das três já citadas acima temos: responsa (de boa qualidade), rolezinho (volta no shopping), estou “de boa” (estou tranquilo), véio (meu camarada, bicho); deu ruim (algo que não está bom); milgrau (algo exagerado: “Você está milgrau!”); Partiu (usada nas redes sociais para dizer que está indo para algum lugar: “Partiu banho!”); bolado (espantado); popozuda (mulher com a bunda grande).

 

Lutar contra novas expressões e palavras é o mesmo que lutar contra movimentos musicais e artísticos. Cabe aos pais e professores orientarem filhos e alunos de que existe uma linguagem adequada para cada ambiente e o respeito a essa adequação é que determina o uso da língua para nos comunicarmos. Do ponto de vista da Filologia (estudo da língua em toda a sua amplitude) as gírias podem ser consideradas como evolução já que contribuem para o movimento e para a transformação dos idiomas. Já do ponto de vista da Linguística (a ciência da linguagem) é a comunidade que transforma a língua porque o indivíduo sozinho não possui esse poder. Ou seja, a gíria só vale quando é falada por todo mundo, ou seja, quando “cola”.

 

Até a próxima dúvida, amigos!

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