Por Jheniffer Núbia e Carolina Brazil
Rondônia Rural
A comunicação é uma das ferramentas úteis para transformar os resultados das pesquisas rurais em Rondônia em informação no campo. Na unidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no estado, por exemplo, a linguagem técnica é "traduzida" por Renata Silva, assessora do núcleo de comunicação. É ela quem faz a divulgação de estudos e tecnologias realizados pelos pesquisadores.
A fusão entre rural e o trabalho como jornalista é oriunda de uma paixão da assessora herdada dos pais pelo assunto. Segundo Renata, eles tiveram a produção rural como parte da renda da família. Natural de São José dos Campos (SP), a jornalista chegou em Alta Floresta D’Oeste (RO) quando tinha apenas 2 anos – o município fica a cerca de 530 quilômetros de Porto Velho.
Renata se formou em Comunicação Social (habilitação em jornalismo) pela Universidade Federal de Viçosa (UFV). A instituição é reconhecida como centro de excelência em Ciências Agrárias. Renata, que tem especialização em Comunicação e Marketing, conta que o contato com o campo sempre foi algo próximo.
"O fato de eu ter tido essa vivência no campo me ajuda a entender o outro lado da moeda. Na Embrapa eu atuo com a linguagem muito técnica e eu preciso levar essa informação técnica de uma maneira muito mais leve, simples para que o produtor possa entender e adotar as tecnologias que vão facilitar a vida dele no campo, e gerar melhorias da qualidade de vida", disse.
A relação da jornalista com o agronegócio é desde a infância. — Foto: Arquivo pessoal
Mesmo com a experiência no campo e com trabalhos produzidos sobre a cafeicultura de Rondônia, foi depois de ser convidada à uma reunião com a equipe da Aliança Internacional das Mulheres do Café (IWCA), em Belo Horizonte (MG), em 2017, e produzindo o livro 'Mulheres dos Cafés no Brasil', que Renata diz que passou a ter uma visão diferente da mulher no campo.
"Voltei da reunião com a minha cabeça completamente transformada e passei a ver a mulher na cafeicultura. Por mais que eu trabalhasse há anos na áreia na Embrapa, eu não tinha percebido esse olhar e a visibilidade para a mulher", diz a jornalista.
É no capítulo 14 que Rondônia tem destaque. A jornalista discorre o quadro da cafeicultura da região, conta histórias das mulheres que são envolvidas nessa cultura, resgata a história de como o café passou a fazer parte das famílias rurais do estado e cita dados da situação e atuação das mulheres na sociedade.
"Um dos dados levantados aponta que as mulheres que atuam no campo contribuem mais com a renda familiar (42,4%) do que as que vivem nas cidades (40,7%). Ainda de acordo com o IBGE, em 2000, as mulheres chefiavam 24,9% dos 44,8 milhões de domicílios particulares. Em 2010, essa proporção cresceu para 38,7% dos 57,3 milhões de domicílios, o que representa um aumento de 13,7%", diz Renata no livro Mulheres dos Cafés no Brasil.
Com essa visibilidade, a jornalista destaca que a atuação da mulher no agro é uma forma de somar ao lado do homem no trabalho.
"A gente vê que a mulher vem conquistando cada vez mais espaço, postos de gestão, ela tem sido mais visível e isso é muito importante. Pois, a mulher traz características, que são peculiares. A sensibilidade por exemplo, a mulher tem uma visão mais global das coisas, ela consegue ter estratégias mais humanas para tratar das situações", explicou
Foi a partir do encontro de mulheres da indústria do café dos Estados Unidos e Canadá com produtoras de café na Nicarágua que surgiu a organização sem fins lucrativos International Womens's Coffee Alliance (IWCA), em 2003.
A IWCA tem como missão fortalecer as mulheres que atuam em todos os elos da cadeia. Além da IWCA Brasil, a organização existe nas filiais nos países de Burundi, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Índia, Quênia, Nicarágua, Filipinas, República Democrática do Congo, República Dominicana, Ruanda, Tanzânia e Uganda, que são produtores.
A jornalista é editora das revistas que são consideradas portfólio da Cafeicultura na Amazônia — Foto: Arquivo pessoal
O trabalho com o café, segundo Renata, foi um marco em sua carreira. Ao lado do engenheiro agrônomo Enrique Anastácio Alves, que é o criador da identidade dos Robustas Amazônicos, marca adotada para caracterizar e identificar os cafés produzidos em Rondônia, a jornalista está na realização de eventos e ações para a cafeicultura do estado.
"Foi com o Café que a gente conseguiu realizar diversas ações de comunicação e ter a notoriedade para a cafeicultura do estado. Esse destaque todo, na nossa visão, foi muito inclusivo, pois a gente tentou incluir a mulher dando visibilidade à ela. Os indígenas que produzem o grão, os produtores com sustentabilidade e que são os protagonistas do nosso trabalho", diz Renata, que também é a editora da revista Cafés de Rondônia.
Rondônia é o quinto maior produtor de café do país e está entre os três maiores produtores da espécie Coffea Canephora (conilon e robusta). A safra de 2019 do grão foi de quase 2,1 milhões de sacas, cultivados em uma área de 62.729 hectares, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
O café de Rondônia tem obtido destaque e reconhecimento pela qualidade do produto, reconhecido como Robusta Amazônico. Em 10 anos, a produtividade saiu de 10 sc/ha para 33, o que representa um salto de 230% que ocorreu, principalmente, a partir de 2014 com o uso de tecnologias como irrigação, adubação e manejo adequado, além de novas variedades clonais, mais produtivas e que vêm substituindo as lavouras propagadas por sementes. Essas transformações têm chamado a atenção no cenário produtivo nacional.
Criador da identidade dos Robustas Amazônicos, o engenheiro agrônomo e pesquisador Enrique Anastácio Alves ressalta o trabalho realizado pela jornalista na facilitação à compreensão do público alvo dos estudos feitos na Embrapa Rondônia.
"O trabalho que a Renata faz é muito importante. Pois é necessário saber transmitir a informação para o público alvo da pesquisa, que são os produtores, a sociedade e que vão usufruir dos produtos gerados pela Embrapa", opina.
Enrique, que é mestre em Engenharia Agrícola, Análise da Variabilidade espacial da qualidade do café cereja cultivado em região de montanha, além de doutor em Engenharia Agrícola, Variabilidade espacial e temporal da qualidade do café produzido na região das Serras de Minas, ambos na UFV, é um dos protagonistas da evolução da cafeicultura no estado, especialmente quanto à valorização da qualidade do café robusta.
O pesquisador ressalta ainda que a parceria deles é fundamental para divulgar o resultado de anos de pesquisas. "É função dela levar a história de como foi feito e de todo o embasamento científico por trás disso e transcrever essa linguagem técnica e científica de forma palatável para quem consome as nossas tecnologias", finaliza Enrique, que atua nas áreas de Colheita, pós-colheita e qualidade de bebida do café.
Dados do IBGE do Censo Agropecuário 2017 mostram que, no Brasil, 3,6 milhões de pessoas vivem no campo, sendo quase 700 mil mulheres, o que equivale dizer que 19% dos produtores individuais são do sexo feminino.
Em Rondônia, um dado chama a atenção para evolução no processo de fixação e permanência das mulheres na área rural.
Em 2006, o número de homens foi contabilizado em 79.257 e de mulheres 7.821. É possível observar neste levantamento que em 2017, aqui no estado, houve evasão dos homens e aumento das mulheres no campo. Os números foram registrados assim: 76.826 homens e 14.328 mulheres. Cerca de 100% a mais de representantes femininas em pouco mais de uma década no estado.
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