Notícia publicada em 24/02/2016 às 03:35 |
Ponto & Virgula
Títulos de matérias não têm ponto no final nem artigos no início. Que regras são estas?
Por Marcos Lock
Tradicionalmente no jornalismo não se finalizam os títulos com ponto final. Por que afinal isto acontece se o título em geral é uma frase completa? A explicação técnica, segundo alguns autores, seria esta: o título, que deve ser uma síntese da notícia a seguir, tem uma função introdutória e chamativa.
Assim, tudo se passa como se no fim do título houvesse dois pontos, que serviriam para introduzir a matéria com as demais informações. Como o jornalismo prima pela objetividade, os dois pontos ficam omissos e nunca aparecem.
Certamente, este mesmo critério de simplicidade também foi o responsável por suprimir os pontos finais das legendas, dos sub-títulos e dos “olhos”, muito usados em entrevistas tipo “pingue-pongue”. No entanto, são admissíveis outros sinais de pontuação no fim do título como a interrogação, a exclamação e as reticências, todos em casos muito específicos.
No interior do título é de certa forma comum encontrarmos o uso da vírgula, das aspas (simples e duplas) ou mesmo dos dois pontos. Em uma única e rápida visita ao site do jornal “O Estado de S. Paulo”, achamos estes títulos com pontuação interna: 1) Juiz autoriza ouvir Dilma sobre ‘compra’ de MPs [aspas simples] 2) Com 0,9º C a mais, 2015 é o ano mais quente da história [vírgula] 3) Lula: “Não tem uma viva alma mais honesta que eu” [dois pontos e aspas duplas] 4) “O negócio do Collor é dinheiro”, afirma Cerveró [aspas duplas e vírgula].
ARTIGOS — Títulos jornalísticos têm outra particularidade: eles não começam com artigos definidos. Numa determinada edição on line da revista Veja havia, por exemplo, este título: Rainha abre as portas do Palácio de Buckingham para visitação...on-line [eis as reticências aí presentes]. No entanto, no texto logo depois aparecia o artigo definido bem no início: A rainha Elizabeth II franqueou que o interior do Palácio de Buckingham possa agora ser explorado pelos internautas.
Essa supressão do artigo não ocorre desde sempre. Salvo engano, ela é simultânea à introdução do estilo com influência norte-americana, que incluiu a preferência pela ordem direta e o uso do verbo no tempo presente nas manchetes, além da impessoalidade do relato jornalístico.
A moda pegou e hoje praticamente não se vê título de matéria iniciado com artigo, seja ele definido ou indefinido. Tal “regra” certamente teve decisiva influência na produção do título a seguir: Nevasca em Alpes paralisa estradas e lota abrigos. “Em Alpes”? Não soou bem.
O nome Alpes deve ser apresentado sempre com artigo [a menos, como já disse acima, que essa palavra inicie a manchete], o mesmo ocorrendo com os Andes e os Pirineus. Então, neste caso, o normal seria: Nevasca nos Alpes paralisa estradas e lota abrigos. Se fosse no início poderia ser, sem o artigo: Alpes são invadidos por alpinistas em busca de aventuras neste verão.
Até a próxima questão, amigos!
Marcos Lock (*)
E-mails para esta coluna devem ser enviados para colunapontoevirgula@gmail.com.
(*) Jornalista profissional, professor universitário e graduando do curso de Licenciatura em
Língua Portuguesa e suas Literaturas, da Universidade Aberta do Brasil/UNIR.
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